Muito se fala sobre monitorar a quantidade e tamanho de partículas transportadas pelo ar, MAS somente o monitorar não ajuda a melhorar a condição do seu ambiente.
O momento que uma determinada partícula finalmente aterriza em uma superfície é chamado de DEPOSIÇÃO DE PARTÍCULA. Para aterrissar a partícula tem que entrar na CAMADA LIMITE e por isso entender como as partículas se movem e depois se depositam nos objetos é fundamental para se estudar como minimizar ou prevenir contaminações desta origem.
O QUE É “CAMADA LIMITE”?
O sistema de ventilação ou a movimentação de pessoas (ou equipamentos) dentro de uma sala, cria diferentes (ou interfere nos) fluxos e velocidades do ar em relação aos objetos lá instalados. Este assunto é extremamente complexo, mas se simplificarmos o conceito, em função da geometria do objeto e da velocidade do ar em seu entorno, cria-se na superfície deste uma camada de ar, mais espeça ou mais afinada, que tem velocidade tendendo a zero o que por sua vez cria uma barreira de “proteção” para a partícula depositada. A este espaço damos o nome de CAMADA LIMITE.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS MECANISMOS DE DEPOSIÇÃO DE PARTÍCULAS?
São 3 os principais mecanismos:
- Sedimentação gravitacional: Partículas caem por força da gravidade.
- Deposição turbulenta: Partículas são transportadas por fluxos de ar turbulento e colidem com objetos
- Atração eletrostática: Partículas são atraídas por superfícies com cargas elétricas opostas.
Em um estudo conduzido nos EUA, realizado em uma sala limpa não UDF (uni-directional airflow – fluxo unidirecional), com 6 metros de largura por 4.2 metros de comprimento e 2.7 metros de pé-direito, resultando em um volume de 67.5 metros cúbicos, determinou que os mecanismos mais importantes de deposição de partículas eram: sedimentação gravitacional, a deposição turbulenta e, em alguns casos, a atração eletrostática. Para partículas menores que 0,5 µm, a difusão browniana também esteve presente.
A sedimentação gravitacional é quando as partículas se depositam em superfícies devido à influência da gravidade. Com partículas menores, isso acontece muito lentamente. Por exemplo, uma partícula de 0,5 µm cairá a uma taxa de cerca de 0,0008 cm/s. À medida que o tamanho da partícula aumenta, a velocidade é proporcional ao quadrado do diâmetro da partícula. Em partículas maiores, esse é o mecanismo dominante.
A deposição turbulenta ocorre quando a turbulência do ar deposita partículas em uma superfície ou remove uma partícula de uma superfície para outra. Quanto maior a turbulência, maior a quantidade de partículas depositadas ou agitadas. Neste caso estudar detalhadamente o fluxo de ar na sua sala contribui para eliminar vórtices de turbulência em função da interferência de equipamentos e pessoas nas salas.
Por fim, a atração eletrostática ocorre quando partículas com superfícies com cargas elétricas opostas são atraídas. A maioria das partículas transportadas pelo ar e superfícies dos objetos tem alguma forma de carga elétrica. Para minimizar este fato, importante equipar sua sala com moveis e equipamentos que permitam seu aterramento, eliminando-se assim cargas eletrostáticas que por ventura se formem estes itens.
VOCÊ CONSEGUE EVITAR A DEPOSIÇÃO DE PARTÍCULAS?
A resposta é NÃO! É praticamente impossível encontrar um local completamente livre de partículas, que seja economicamente viável em uma indústria farmacêutica, portanto o melhor a fazer é monitorar seu ambiente e melhorar processos para reduzir quantidade de partículas.
O QUE FAZER ENTÃO?
A primeira tarefa, e a mais óbvia, é: reduzir ao máximo o número de partículas que entram na sala ou são geradas dentro do ambiente.
Na sequência, medir a quantidade e o tamanho das partículas que estão em suspensão no ar. Eleja vários pontos na sua sala e instale contadores de partículas confiáveis. Estes equipamentos devem ser capazes de funcionar continuamente por longos períodos, idealmente pelo tempo integral que a sala esteve disponível para uso.
Porém somente estas medições não melhoram a condição do ambiente. Para reduzir a quantidade de partículas na sua sala, é importante integrar outros parâmetros durante a medição da qualidade do ar. Com estes dados em mãos estudar ações em função de medições e determinar a origem da contaminação, por exemplo: um pico na contagem de partículas pode ter sido originado após uma porta ter sido aberta, uma porta que não fechou direito, ou que tenha ficado aberta por muito tempo, ou até mesmo uma porta que foi aberta com muita intensidade. Um pico de leitura pode ter ocorrido durante algum processo específico de um de seus equipamentos, ou na mudança da umidade relativa do ar, etc. Ao integrando diversas grandezas, você terá condições de melhorar a qualidade do ar do seu ambiente.
A instalação de pisos poliméricos na entrada dos ambientes que tem como característica a retenção de partículas é outra ferramenta que colabora com a diminuição de partículas nas salas. Estes dispositivos têm muitas vantagens sobre os tradicionais “peel-off”. Os “peel-off” são pequenos (e por vezes evitados pelas pessoas) e geram resíduos que precisam ser continuamente descartados, geram energia eletrostática quando se remove a folha suja. A cola usada para capturar a sujeira por vezes fica aderida ao sapato fazendo que a sola seja um agregador de poeira. Nos modelos poliméricos permanentes, além destes serem instalados de forma serem inevitáveis para as pessoas, não há a criação de resíduo, não gera energia eletrostática, não usa cola e tem uma eficiência de mais 3x de retenção.
A limpeza do ambiente e seus caminhos de acesso, realizada com todas as técnicas e produtos adequados para cada situação é tarefa primordial na manutenção dos níveis de partículas dentro daqueles preconizados pelas normativas.
E finalmente não podemos deixar de mencionar que o treinamento do seu pessoal é fundamental para que toda a tecnologia empregada para manter a sua sala limpa dentro dos padrões funcione.